ENTRELACES HISTÓRICOS


A Psicologia Social na América Latina

Martin-Baró e a Psicologia Social 

Ignacio Martín-Baró critica a forma tradicional como a Psicologia se desenvolveu na América Latina, observando que ela foi moldada sob a influência dos países centrais (especialmente os EUA e Europa) e, portanto, não atendeu às necessidades específicas dos povos latino-americanos. Em vez disso, ela reforçou uma ordem social injusta, centrando-se em problemas individuais e ignorando as raízes sociais da opressão.

Segundo o autor, para que a Psicologia tenha um verdadeiro papel transformador, ela precisa se comprometer com a libertação dos povos oprimidos. Esse compromisso implica:

  • Superar o individualismo: A Psicologia tradicional tratou os problemas humanos como questões exclusivamente individuais, desconsiderando o contexto social, histórico e econômico que gera sofrimento. Martín-Baró propõe que a Psicologia deve priorizar a análise das relações sociais e estruturas que produzem a opressão.
  • Colocar-se a serviço da mudança social: O psicólogo não pode ser neutro. A neutralidade, segundo o autor, é uma forma de cumplicidade com a injustiça. A Psicologia deve se engajar na luta pela transformação social, auxiliando no fortalecimento dos oprimidos para que eles possam conquistar autonomia e dignidade.
  • Reformular seus objetivos e métodos: A prática psicológica não deve apenas ajudar o indivíduo a se adaptar, mas sim favorecer processos de conscientização crítica e de emancipação coletiva. Isso implica em repensar teorias, metodologias e práticas clínicas, tornando-as mais próximas das necessidades concretas das comunidades.
  • Resgatar o saber popular: A Psicologia da Libertação valoriza o conhecimento que emerge das vivências das comunidades. O saber acadêmico não é superior ao saber popular; ambos devem dialogar para construir práticas que sejam realmente eficazes.
  • Construir uma Psicologia nova: Não basta adaptar a psicologia existente; é preciso construir um novo conhecimento psicológico, enraizado na realidade latino-americana. Essa nova psicologia deve partir da vida concreta dos oprimidos, reconhecendo seu sofrimento como um reflexo das estruturas de dominação.

A Psicologia da Libertação deve atuar em dois níveis:

  1. Analisar e denunciar as fontes de opressão: Tornar visíveis as causas sociais do sofrimento, que muitas vezes são ocultadas pelas interpretações tradicionais.
  2. Promover processos de organização e conscientização: Ajudar os oprimidos a perceberem suas condições e fortalecer sua capacidade de ação coletiva para transformar a realidade.


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A Psicologia Social no Brasil

Sílvia Lane e a virada crítica

A Psicologia Social no Brasil passou por uma transformação significativa a partir da década de 1970, momento em que emergiu uma crítica ao modelo hegemônico individualista e adaptacionista importado de países centrais. Esse movimento deu origem à chamada Psicologia Social Crítica, voltada para os problemas concretos vividos pela população brasileira. 

Um dos nomes centrais dessa virada foi Sílvia Lane, que defendia uma psicologia comprometida com as classes populares e a transformação social. Em seu texto "A Psicologia Social e uma nova concepção do homem para a Psicologia", Lane afirma que "toda psicologia é social", reconhecendo a indissociabilidade entre indivíduo e sociedade.

Para Lane, a Psicologia não pode fragmentar o ser humano nem ignorar sua história. É necessário superar a visão mecanicista da conduta humana e compreender o sujeito em movimento, inserido em seu contexto histórico, político e cultural. Assim, a Psicologia Social deve assumir um papel ativo na leitura crítica da realidade e na busca por justiça social.

A criação da ABRAPSO

O movimento de renovação da Psicologia Social no Brasil levou à criação da ABRAPSO (Associação Brasileira de Psicologia Social), em 1980, por um grupo de pesquisadores comprometidos com uma ciência crítica e transformadora. Entre os sócios-fundadores estava Marcos Vieira Silva, professor mineiro, que contribuiu significativamente para a organização de eventos da ABRAPSO em Minas Gerais.

Outras contribuições importantes

A professora Elisabeth de Melo Bomfim também teve papel fundamental na construção da Psicologia Social crítica no Brasil, especialmente em Minas Gerais. Em seus textos, ela resgata a história dessa construção coletiva e o papel de pesquisadores e instituições comprometidas com a democratização do saber psicológico.

Principais ideias da Psicologia Social Crítica no Brasil

  • Superação da visão individualista.

  • Inserção do sujeito em seu contexto histórico-social.

  • Compromisso com os direitos humanos e justiça social.

  • Produção de conhecimento a partir das realidades brasileiras, em diálogo com os saberes populares.

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Histórias Múltiplas e Plurais

Duas grandes vertentes: Psicológica e Sociológica 

A Psicologia Social é um campo marcado pela pluralidade de abordagens, reflexo das diferentes tradições teóricas, culturais e históricas nas quais se desenvolveu. Essa multiplicidade é visível tanto no panorama internacional quanto no brasileiro, e revela uma disciplina em constante transformação e debate.

Historicamente, a Psicologia Social se dividiu em duas grandes correntes:

  • Psicologia Social Psicológica: de origem principalmente norte-americana, enfatiza os processos intraindividuais (como atitudes, percepções, cognição social), muitas vezes por meio de experimentos controlados. Um exemplo clássico é o experimento de conformidade de Solomon Asch, que investigava a influência do grupo sobre o julgamento individual.

  • Psicologia Social Sociológica: de raízes europeias, foca nos fenômenos coletivos e nas estruturas sociais, analisando como a experiência social molda os indivíduos a partir de suas relações grupais e culturais.

Essa divisão reflete diferentes formas de compreender a relação entre indivíduo e sociedade, mas também alimentou críticas importantes à fragmentação do campo.

A "crise da Psicologia Social"

Na década de 1970, ocorreu o que se chamou de "crise da Psicologia Social", especialmente nos Estados Unidos. As críticas apontavam:

  • Excesso de experimentalismo artificial, longe dos problemas sociais reais.

  • Relevância social limitada, com produções pouco úteis para transformar a realidade.

  • Descompromisso ético e político da ciência psicológica.

Essa crise abriu espaço para a emergência de novas abordagens críticas, que buscavam integrar teoria e prática com um compromisso social.

Emergência da Psicologia Social Crítica

Como resposta à crise, surgem, especialmente na América Latina e Europa, abordagens que integram elementos da Psicologia, Sociologia, Filosofia e Política. Entre essas vertentes estão:

  • Psicologia Histórico-Cultural e Marxista

  • Socioconstrucionismo

  • Feminismo

  • Psicologia Discursiva

  • Pós-modernismo

Essas correntes formam o campo da Psicologia Social Crítica, que busca:

  • Questionar as estruturas sociais e os próprios modos de produção de conhecimento.

  • Produzir intervenções comprometidas com a transformação social.

  • Valorizar o saber contextualizado, a memória histórica e os saberes dos sujeitos.

Um campo em disputa e movimento

Atualmente, a Psicologia Social é composta por múltiplas tradições que coexistem: algumas mais experimentais e individualistas; outras mais coletivas e críticas. No Brasil, por exemplo, há forte presença da Psicologia Social Crítica, mas também produções alinhadas às vertentes psicológicas e sociológicas clássicas.

ANOTAÇÕES

MATERIAIS USADOS PARA ESTUDO:

Experimento clássico de Solomon Asch:

https://youtu.be/F11F1cHakPM

Redes teórico-metodológicas

 ABORDAGENS CRÍTICAS DA PSICOLOGIA SOCIAL 

  • A Psicologia Social é plural e composta por várias correntes teóricas e metodológicas.

  • Seu foco é a transformação social, com um compromisso ético-político.

  • Faz diálogos com outras áreas como a Sociologia, Filosofia, Educação e Política.

  • Destacam-se diversas abordagens críticas:

    • Psicologia da Libertação (Martín-Baró)

    • Psicologia Social Comunitária (Maritza Montero)

    • Psicologia Socio-Histórica

    • Construcionismo Social

    • Representações Sociais (Moscovici e Jodelet)

  • Influências importantes: Freire, Marx, Foucault, Vygotsky, Mead, Goffman, Gonzalez Rey, entre outros.

  • Essas redes mostram que o conhecimento é construído coletivamente, com base nas realidades sociais concretas.